11.02.2005

Cultura: Maquinista de cinema revela segredos da profissão

Cultura: Maquinista de cinema revela segredos da profissão
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Maquinista de cinema é profissão tão antiga quanto a própria Sétima Arte, mas enquanto os festivais e escolas privilegiam funções artísticas, a "turma da pesada" - como são conhecidos esses profissionais - raramente é lembrada. Por isso, um veterano, entre eles José Carlos T. Pinto, o Carlão Maquinária, escreveu um livro contando suas experiências, passando dicas para quem está chegando e lembrando histórias dos muitos filmes que ajudou a rodar. Agora, ele busca editora e, enquanto não consegue, lançou o manual A Sétima Arte e eu - Histórias de um maquinista.No seu currículo estão clássicos como Inocência, de Walter Lima Júnior, Ópera do malandro, de Ruy Guerra, I love Rio, de Stanley Donen (com Demi Moore novinha, antes das plásticas), Natal da Portela e O viajante, de Paulo César Saraceni, em que a câmera literalmente voava. "O maquinista é quem torna isso possível e nunca diz não ao diretor. Se não dá para fazer o que ele pede, vem com outra solução à altura", ensina Carlão que começou na televisão e, depois de décadas no cinema, voltou à telinha, na TV Educativa. "São veículos muito diferentes. A televisão trabalha mais com plano fechado, enquanto o cinema tem planos abertos. Mas na TV, a gente faz eventos ao vivo, como os festivais de música. Em ambos, a principal preocupação é a segurança da equipe."Carlão aprendeu na prática e escreve para o leigo e o técnico. Mesmo quando fala termos que nem imaginamos existir, passa sua idéia e a enorme responsabilidade da equipe de maquinistas, geralmente de dez a 15 pessoas num longa-metragem. Dolly (carrinho que sustenta a câmera nos travellings), três tabelas (paralelepípedo de mil e uma utilidades no set), sargento (grampo de ferro para prender peças pesadas) são analisados por ele, que ressalta ainda a importância do companheirismo e o bom astral nas filmagens. E, também, disciplina e organização, pois o maquinista cuida de centenas de detalhes e equipamentos de filmagem."O trabalho é corrido e tenso. Então, cabe ao chefe da maquinaria estimular o alto astral de sua equipe e o relacionamento desta com os eletricistas, o diretor e os atores" explica ele. "Geralmente, atores adoram a turma da pesada, gostam de ficar com a gente por que tem sempre um sanduíche transado que a mulher fez em casa, um sambinha depois do trabalho para relaxar, coisas assim. Edson Celulari, Vera Fischer e Sônia Braga adoram ficar com a gente e, quando o ator chega cheio de si, logo aprende a conviver bem, pois damos dicas para ele aparecer melhor na cena."Segundo Carlão, o maquinista começa quando o roteiro fica pronto, pois precisa estudar com o diretor e o fotógrafo que caminho a imagem vai percorrer e como dar segurança a todos os envolvidos, especialmente os atores e quem cuida da câmera. No fim da filmagem, ele recolhe o equipamento e ainda planeja o dia seguinte. "Em O viajante, havia uma cena em que a Marília Pêra jogava o filho de um penhasco e a imagem acompanhava a queda. Não podia haver risco, pois um maquinista até pode errar, como todo mundo, mas não deve", conta. "E tem de planejar bem, porque ele é da turma da pesada, mas não deve carregar peso. Essa função é das máquinas."A primeira versão da novela Cabocla foi a estréia de Carlão e ele logo viu que sua profissão precisava ser valorizada. Fundou seu sindicato, que reúne cerca de 300 profissionais, e preocupa-se com a formação das novas gerações (não existem cursos para maquinistas) e com o futuro da sua geração. Um profissional ganha em média R$ 1 mil por semana e nem sempre trabalha o ano todo. "Foi tão importante o Festival de Cinema de Língua Portuguesa de Cataguases (em Minas, em junho) ter premiado nossa categoria. Este meu manual foi possível porque eles o editaram. Quem quiser um exemplar é só nos procurar na sede do sindicato, no Rio (o telefone é (21) 2221-9473)."»

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