IVAN ÂNGELO
A vocação de um escritor se manifesta quando, ainda menino, ele se torna leitor, e começa a tomar forma no momento em que esse contato prazeroso com a leitura chega à palavra escrita. Ao ouvir historinhas, canções, casos, ou mesmo assistir a teatrinhos e desenhos, a criança já exercita sua imaginação. Se ela tiver um certo gosto pelas narrativas e aprimorar sua linguagem, poderá ser um narrador e, quem sabe, um escritor de ficção”. É assim que se inicia, segundo o jornalista e escritor Ivan Ângelo, a trajetória daqueles que escolhem essa peculiar maneira de interpretar o mundo.
Autor das crônicas publicadas quinzenalmente na última página da revista Veja São Paulo, ele diz que começou a escrever nos tempos do colégio. “Eu também queria contar histórias como as que lia. Elaborava pequenos textos e os colegas gostavam. Passei então a redigir contos e participar de concursos que acabaram me rendendo alguns prêmios”, relata, lembrando que os primeiros passos no jornalismo foram dados no Diário da Tarde, de Belo Horizonte. Nessa época, fez parte do grupo que publicava a revista cultural Complemento, formado por poetas, ficcionistas e estudiosos de arte – “jovens muito jovens procurando seu espaço”.
Ivan mudou-se para São Paulo em 1965, já como autor de livro bem-conceituado e com boa carreira no jornalismo. Foi convidado para engrossar o time de grandes nomes do Jornal da Tarde, onde atuou durante 35 anos como editor de variedades, secretário de redação e editor-chefe. “Eu pautava matérias, escolhia repórteres, fazia o molho do dia, botava na página, destacava ou cortava, editava”. Uma época que deixou saudade. “Era um jornalismo criativo, mais aprofundado, voltado para histórias de vida e de pessoas”, comenta. “Infelizmente, a imprensa não tem mais espaço para isso, limitando-se a informar o essencial, sem se aprofundar ou investigar. É tudo muito superficial e rápido, numa linguagem semelhante à dos noticiários de televisão.”
O que mais o motiva, na atividade que exerce, é a possibilidade de mexer com a cabeça do leitor. Mineiro de Barbacena, criado em Belo Horizonte, ele vive há 40 anos na capital paulista, com a qual desenvolveu uma relação de profunda empatia. A inspiração para as crônicas sobre o dia-a-dia dos paulistanos vem de seu olhar atento e sensível: “Eu ando muito, a pé, de ônibus, de metrô. Fico fascinado com as pessoas, seus hábitos, suas conversas nas esquinas. Minhas idéias surgem da observação, do contato com o povo. Quando cheguei, São Paulo era uma cidade encantadora, com 3 milhões de habitantes e muito civilizada. Basta dizer que os carros paravam para os pedestres atravessarem. Bem diferente de hoje, embora a metrópole ainda tenha seus encantos.”
Foi seu primeiro livro – Duas faces –, lançado em 1961 com ótima receptividade de público e elogios da crítica, que abriu caminho para o jornalista ganhar prestígio também na literatura. O romance A festa, iniciado em 1963, só foi concluído 12 anos depois – “O golpe militar de 1964 inibiu minha produção literária...” Em compensação, ultrapassado esse período, ele publicou várias obras de sucesso, algumas inclusive traduzidas em outros países. Entre elas, o autor destaca os contos reunidos em A face horrível, o livro A casa de vidro, o romance para jovens Pode me beijar se quiser e o livro de contos O ladrão de sonhos. “Nesses textos, consegui escrever da maneira como gosto, brincar com a linguagem, procurando maneiras de dizer o que quero, buscando personagens e ângulos interessantes. Assim como cada pessoa tem seu jeito, cada livro meu tem uma cara diferente, se apresenta com sua roupagem de palavras.”
Bem-sucedido na profissão que escolheu, Ivan Ângelo acredita que o reconhecimento dos outros ajuda bastante. “Mas é preciso tomar cuidado com o aplauso, desconfiar dele”, alerta. “Como carreira, o mais difícil é o primeiro livro, porque ninguém investe em quem não é conhecido. Geralmente, no começo, é o próprio escritor que investe em si mesmo. Com sorte e talento, ele segue.”
As principais dificuldades para ser um escritor no Brasil, a seu ver, decorrem dos problemas comuns aos países com péssima distribuição de renda, de cultura, de saúde: “O livro é um produto pouco acessível para a renda da classe média, não se dá o devido valor à cultura e a leitura não é prestigiada. Para complicar, a alfabetização é insuficiente para a compreensão dos textos.”
Cético em relação à situação brasileira, o cronista não tem planos muito definidos para o futuro. “Antes, todos tínhamos um objetivo: melhorar a sociedade. Nos dias atuais, esse sonho parece tão trabalhoso do ponto de vista político que, para a arte, fica mais difícil ainda. Preciso ver como a minha produção pode não ser afetada por esse marasmo. No momento, meu maior estímulo é escrever outro livro para o público jovem. E assim que encontrar uma nova motivação, vou retomar os vários projetos que tenho engavetados.”
Nesse compasso de espera, ele aproveita para se dedicar às atividades que curte no cotidiano, como cozinhar, namorar, brincar com os dois netos, dar uma escapada sempre que possível para seu sítio no interior do Rio de Janeiro, ficar quieto no seu canto lendo. “Para mim, toda leitura enriquece, seja em livros, seja em revistas ou jornais – ficção, poesia, história, comportamento, medicina, arqueologia, astronomia. Menos política parlamentar brasileira...”
Sua relação com a Livraria Cultura é antiga: “Comecei a freqüentar a Cultura assim que mudei para São Paulo, ainda nos tempos do pai e da mãe do Pedro Herz. É uma livraria que tem tudo, tudo mesmo, e os vendedores sabem exercer muito bem o seu ofício!”
Autor das crônicas publicadas quinzenalmente na última página da revista Veja São Paulo, ele diz que começou a escrever nos tempos do colégio. “Eu também queria contar histórias como as que lia. Elaborava pequenos textos e os colegas gostavam. Passei então a redigir contos e participar de concursos que acabaram me rendendo alguns prêmios”, relata, lembrando que os primeiros passos no jornalismo foram dados no Diário da Tarde, de Belo Horizonte. Nessa época, fez parte do grupo que publicava a revista cultural Complemento, formado por poetas, ficcionistas e estudiosos de arte – “jovens muito jovens procurando seu espaço”.
Ivan mudou-se para São Paulo em 1965, já como autor de livro bem-conceituado e com boa carreira no jornalismo. Foi convidado para engrossar o time de grandes nomes do Jornal da Tarde, onde atuou durante 35 anos como editor de variedades, secretário de redação e editor-chefe. “Eu pautava matérias, escolhia repórteres, fazia o molho do dia, botava na página, destacava ou cortava, editava”. Uma época que deixou saudade. “Era um jornalismo criativo, mais aprofundado, voltado para histórias de vida e de pessoas”, comenta. “Infelizmente, a imprensa não tem mais espaço para isso, limitando-se a informar o essencial, sem se aprofundar ou investigar. É tudo muito superficial e rápido, numa linguagem semelhante à dos noticiários de televisão.”
O que mais o motiva, na atividade que exerce, é a possibilidade de mexer com a cabeça do leitor. Mineiro de Barbacena, criado em Belo Horizonte, ele vive há 40 anos na capital paulista, com a qual desenvolveu uma relação de profunda empatia. A inspiração para as crônicas sobre o dia-a-dia dos paulistanos vem de seu olhar atento e sensível: “Eu ando muito, a pé, de ônibus, de metrô. Fico fascinado com as pessoas, seus hábitos, suas conversas nas esquinas. Minhas idéias surgem da observação, do contato com o povo. Quando cheguei, São Paulo era uma cidade encantadora, com 3 milhões de habitantes e muito civilizada. Basta dizer que os carros paravam para os pedestres atravessarem. Bem diferente de hoje, embora a metrópole ainda tenha seus encantos.”
Foi seu primeiro livro – Duas faces –, lançado em 1961 com ótima receptividade de público e elogios da crítica, que abriu caminho para o jornalista ganhar prestígio também na literatura. O romance A festa, iniciado em 1963, só foi concluído 12 anos depois – “O golpe militar de 1964 inibiu minha produção literária...” Em compensação, ultrapassado esse período, ele publicou várias obras de sucesso, algumas inclusive traduzidas em outros países. Entre elas, o autor destaca os contos reunidos em A face horrível, o livro A casa de vidro, o romance para jovens Pode me beijar se quiser e o livro de contos O ladrão de sonhos. “Nesses textos, consegui escrever da maneira como gosto, brincar com a linguagem, procurando maneiras de dizer o que quero, buscando personagens e ângulos interessantes. Assim como cada pessoa tem seu jeito, cada livro meu tem uma cara diferente, se apresenta com sua roupagem de palavras.”
Bem-sucedido na profissão que escolheu, Ivan Ângelo acredita que o reconhecimento dos outros ajuda bastante. “Mas é preciso tomar cuidado com o aplauso, desconfiar dele”, alerta. “Como carreira, o mais difícil é o primeiro livro, porque ninguém investe em quem não é conhecido. Geralmente, no começo, é o próprio escritor que investe em si mesmo. Com sorte e talento, ele segue.”
As principais dificuldades para ser um escritor no Brasil, a seu ver, decorrem dos problemas comuns aos países com péssima distribuição de renda, de cultura, de saúde: “O livro é um produto pouco acessível para a renda da classe média, não se dá o devido valor à cultura e a leitura não é prestigiada. Para complicar, a alfabetização é insuficiente para a compreensão dos textos.”
Cético em relação à situação brasileira, o cronista não tem planos muito definidos para o futuro. “Antes, todos tínhamos um objetivo: melhorar a sociedade. Nos dias atuais, esse sonho parece tão trabalhoso do ponto de vista político que, para a arte, fica mais difícil ainda. Preciso ver como a minha produção pode não ser afetada por esse marasmo. No momento, meu maior estímulo é escrever outro livro para o público jovem. E assim que encontrar uma nova motivação, vou retomar os vários projetos que tenho engavetados.”
Nesse compasso de espera, ele aproveita para se dedicar às atividades que curte no cotidiano, como cozinhar, namorar, brincar com os dois netos, dar uma escapada sempre que possível para seu sítio no interior do Rio de Janeiro, ficar quieto no seu canto lendo. “Para mim, toda leitura enriquece, seja em livros, seja em revistas ou jornais – ficção, poesia, história, comportamento, medicina, arqueologia, astronomia. Menos política parlamentar brasileira...”
Sua relação com a Livraria Cultura é antiga: “Comecei a freqüentar a Cultura assim que mudei para São Paulo, ainda nos tempos do pai e da mãe do Pedro Herz. É uma livraria que tem tudo, tudo mesmo, e os vendedores sabem exercer muito bem o seu ofício!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário